sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Outono

o outono está a chegar. sinto-o pelo frio rasante nos dedos. sinto-o pela parca luz que me entra pelas janelas. há já um cheiro a castanhas na saudade, embebidas em licor de jeropiga. 
o chão atapetado de verde sucumbe. os caminhos ir-se-ão fartar de cores. as aves migrarão de lugar à procura de outros ninhos: os céus encher-se-ão de asas. 
os figos pingam em mel das árvores prenhes. alguns secaram ao sol de verão e jazem no chão, mortos. outros, envoltos nos bicos de pássaros, saciam-lhes a fome. 
tenho medo que o tempo passe. tenho medo que cheguem outros outonos e que tu partas sem eu te conhecer. enchem-se-me os bolsos de saudade daquilo que ainda não somos. é como se eu vivesse por antecipação. não quero pensar nisto, mas tenho medo que tu me vás. fica, digo-te então em surdina. e agarras tão firme a minha mão com os teus dedos de pequeno encanto. 
mas hão de chegar outros outonos. terei rugas de te chorar pequeno, quando olhar lá para trás. sentar-me-ei à janela a tecer a memória. vou pegar-te uma e outra vez ao colo, mas tão-somente no beco da saudade. ver-te-ei a rir, a chorar, limpar-te-ei as lágrimas num afago. não. não me agradeças. não tens de agradecer. eu sou a tua mãe e mãe escreve-se com amor.
por ora olho-te demoradamente. sem tempo. sem pressa. no entanto, pergunto-me: e eu? e tu? que há de ser de nós?

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O amor

Os outonos já não são iguais. As manhãs que orvalham a terra são mais frescas, mais calmas. Apesar de ser tarde. As sementes há muito que desabrocharam e o milho restolha nos campos mornos. Do verde ao dourado foi um instante, um lapso de tempo. 
Tu ainda dormes. A tua respiração contínua abranda uma dor que em mim fica todos os fins de tarde, quando o dia morre. 
Bebo um café apressadamente, pois os teus braços chamam-me. Ris-me com o olhar. Falas-me com o sorriso que ainda não dás. Mas que eu vejo. Ou sonho. 
Há um silêncio que nos fere. Digo-te palavras que não entendes e olhas-me de soslaio, como se eu fosse louca. E sou. De tanto te amar!