sábado, 8 de junho de 2013

Avó dos olhos verdes

tinhas no olhar um rir de menina, um olhar onde desaguavam tantos mares.
dizias que, quando eras nova, todos te gostavam. e eu acreditava-te. diziam, também, que tinhas umas belas pernas, as mesmas que, cedo, te iriam fraquejar.
foste avó-mãe quando o outro regaço me faltou. e faltou. tantas vezes. foste afago. foste afeto. foste o deus-sol que me acariciou os dias.
as avós são duas-vezes-mãe, ouço. tu foste mãe. sempre.
hoje choro-te. choro-nos. e eu não sei onde estás: se no aspergir de uma flor, se no canto da noite, se na luz de uma estrela, se num rir de criança. ou se nisto tudo. 
porquê, avó? porque me morreste sabendo (te) (nos) que o amor é infinito?
hoje precis(o)ava-te aqui. que os teus dedos penteassem os nós dos meus cabelos. que o teu abraço me enlaçasse num refúgio. mas tu morreste(me). e de ti já só tenho o olhar verde a rir e a tua voz pequenina a pedir para te lavarem os pés, porque as tuas pernas, que um dia foram poesia de (en)canto, te não deixam.
porquê, avó? porque me morreste se sabias que (me) (nos) fazias falta?


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