sábado, 15 de junho de 2013

Ano 2050

há muito que me morreram os pássaros, aqueles que se aninhavam nos meus beirais em profilaxias de beijos. 
hoje já só há o canto triste e mole das cegonhas que morrem ao nascer, pois já nem meninos entregam. esses nascem-nos dos ventres inchados.
hoje já só há borboletas em casulos de memória. e os ósculos às flores morreram aí. 
hoje já só há encanto de ovelhas em documentários de fim de tarde. a lã já não é pura-virgem, é entrelaçada em fios sintéticos de dedos cansados. 
os rios secaram. os mares estão mais pequenos. as cidades cresceram. as aldeias perecem em óleos sobre tela expostos em museus de luxo. 
há muito que me morreram os pássaros, os que me vinham debicar às janelas. e eu, por dentro delas, existia em sangue e vida.
hoje já só há memória no lugar do tudo. o tudo que eu não conquistei, porque já só existo em sombra, ou talvez naquele pedaço que me carregas. sabes porquê? porque há muito que me morreram os pássaros. 

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